Em 1933, Fritz Zwicky — um astrônomo suíço que trabalhava na CalTech —
teve uma incrível revelação. Ele observou que a quantidade de matéria
que ele podia ver através dos nossos telescópios não batia com o
comportamento do universo. Devia haver algo mais que não conseguíamos enxergar. Algo responsável por surpreendentes 83% de toda a matéria existente, mas invisível a nós.
Ou que era invisível a nós. Agora, pela primeira vez na história, um
time de astrônomos observou esses ramos ocultos que se estendem por todo
lugar. A matéria escura, a misteriosa substância que parece ter dado ao universo a sua estrutura, foi finalmente revelada.
Os resultados do estudo foram publicados na Nature quarta-feira e quase passaram batidos peloanúncio do bóson de Higgs.
A pesquisa, liderada por Jörg Dietrich, um astrônomo do Observatório
da Universidade de Munique, na Alemanha, observou intersecções em
filamentos de estruturas de grande escala que ocorrem em clusters de
galáxias:
“[Isto marca] a primeira vez que verificamos observacionalmente esta previsão teórica muito importante.”
Essas ramificações escuras eram impossíveis de serem observadas até
agora porque elas não são densas o bastante. Mas Dietrich e seus colegas
conseguiram localizar um filamento que poderia ser observado, uma
gigantesca ramificação de matéria escura com 18 megaparsecs de
comprimento. Ela conecta Abell 222 e Abell 223, dois clusters de
galáxias localizados a 2,7 bilhões de anos-luz da Terra, na constelação
Cetus.
O time pode observar a matéria escura não apenas pela vastidão do
filamento, mas pela sua orientação: ele é perpendicular à Terra, junto à
nossa linha de visão. Isso o torna mais denso da nossa perspectiva,
aumentando a lente gravitacional que deforma a luz e objetos atrás dele.
Ao observar essa distorção em mais de 40 mil galáxias ao fundo, eles
souberam que a massa do filamento tinha entre 6,5×10^13 e 9,8×10^13
vezes a massa do Sol.
Eles usaram dados da nave XMM-Newton, processados por uma nova
técnica de análise computadorizada que revelou o formato preciso do
filamento, além de mostrar a matéria escura e confirmar o modelo teórico
proposto por Zwicky no começo do século XX.
Até agora, nunca havia ocorrido uma observação direta dessa
substância. Você pode ver o efeito no mapa 3D do universo abaixo, que
mostra como as galáxias estão agregadas junto a uma estrutura
aparentemente ramificada. Entretanto, esse era apenas um indicativo da
existência de algo invisível com poder gravitacional suficiente para
criar esses formatos.
Astrônomos e físicos estão muito empolgados com essa descoberta. O
astrofísico Mark Bautz, do MIT, acha que “o que empolga é que neste
sistema pouco usual nós podemos mapear a matéria escura e a matéria
visível juntas e tentar descobrir como elas se conectam e se desenvolvem
naquele filamento.” Alexandre Refregier, um cosmologista do Instituto
de Tecnologia Federal da Suíça, em Zurique, acredita que essa observação
complementará o trabalho de encontrar matéria escura nos laboratórios
da Terra como o LHC ou o Fermilab.
Devagar, dia após dia, estamos descobrindo os segredos do universo um
a um. E continuaremos, até que o universo se canse da gente e nos mande
um asteroide gigantesco para acabar com aqueles humanos petulantes.
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